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Um dos maiores furos dos livros e filmes
sobre warbirds, bem como dos simuladores, é a quase completa omissão
com referência aos aviões soviéticos da segunda guerra,
ou a subestimarão a importância que estes tiveram. Na realidade,
os aviões soviéticos cumpriram um destacado papel, suportando
uma pesadíssima carga, e muitos deles estão entre os melhores
tipos da época, mesmo sendo quase desconhecidos dos ocidentais,
apesar de produzidos em enorme quantidade, muito maiores que qualquer caça
aliado. Mesmo nosso simulador Warbirds só inseriu aviões
russos na versão 2.5, e mesmo assim apenas 2 modelos de caça.
(e sendo um o desenvolvimento do outro)
Numa primeira análise, os aviões russos eram considerados, pêlos analistas ocidentais, rústicos e primitivos, mas na realidade foram concebidos com base em especificações bem estudadas e levando-se em conta o contexto da frente oriental, onde o inverno congelava motores e as toscas pistas de grama ou de terra, cheias de ondulações e muitas vezes cobertas de neve, eram impraticáveis para muitos projetos ocidentais. Muitos aviões russos, por exemplo, tiveram seus trens de pouso retirados e substituídos por esquis. Biplanos considerados obsoletos eram transformados em bombardeiros e recebiam propulsão auxiliar por foguete para conseguirem decolar lotados de bombas. A madeira e a tela muitas vezes substituíam o alumínio pois a produção deste metal não era suficiente. Embora conceitos sofisticados como turbo-super-compressores e cabines pressurizadas para operação em altitude já fossem dominados no fim dos anos 30, não foram aplicados pois não haviam bombardeiros estratégicos a interceptar e consequentemente inexistiam combates na estratosfera, o que se impunha era o dogfight na altura da copa das árvores e o bombardeiro tático das tropas e instalações inimigas. E nesse sentido, os aviões russos eram, em geral, mais bem preparados que o de seus aliados e inimigos para a tarefa. O bombardeiro médio bimotor PE2, por exemplo, era muito mais rápido que o B25 e B26, seus equivalentes ocidentais, as últimas versões inclusive eram quase tão rápidas quanto um Me109G. O anti-tanque Sturmovik era superior a qualquer avião equivalente no mundo nessa função, e os últimos caças da série Yak e Lag eram muito superiores aos Me109G e FW190A no combate em baixa altitude. Quando a Alemanha invadiu a URSS, em junho de 1941, a maior parte de seus aviões era realmente obsoleta, mas já estavam entrando em produção tipos bem mais avançados, capazes de pelo menos igualar o desempenho de seus inimigos, e cujo desenvolvimento e fabricação foram acelerados a toque de caixa por conta da invasão. Houve algum atraso, por conta do deslocamento dos centros de produção para o leste, fora do alcance dos bombardeiros alemães, e para suprir a emergência, foram importados caças aliados, especialmente P40, P39, Hurricane e alguns Spitfire, que foram de extrema valia. Já em fins de 1941, os novos modelos russos já eram produzidos aos milhares e modelos ainda mais avançados já estavam sendo desenvolvidos. Mas o maior problema dos soviéticos era a qualidade de seus pilotos, quase todos inexperientes, e presas fáceis para os já tarimbados pilotos alemães, que lutavam desde 1939, isso sem contar os que já vinham da guerra espanhola. Também as táticas de combate alemãs, bem experimentadas, eram muito mais eficientes. Portanto, embora os aviões russos mais novos fossem capazes de pelo menos igualarem seus oponentes, seus pilotos não estavam à altura, e as vitórias alemães foram muito superiores. Entretanto, os soviéticos foram, a um alto custo, aprendendo, e em fins de 1943 já possuíam não só pilotos bons como aviões superiores, e acabaram virando a mesa. Vejamos então a situação dos caças russos da segunda guerra. No início da guerra, grande parte da força aérea Russa era composta por biplanos Polikarpov I-15 ( apelidado de " Chato" pêlos ocidentais ) e por monoplanos I-16 ("Rata"), desenvolvidos no início dos anos 30 e que tinham sido usados na guerra espanhola, e enfrentado as primeiras versões do Me109.O I-16 inclusive foi um páreo duro para o Me109B, pois tinha quase a mesma velocidade e era bem mais manobrável. Mas em 1941, não podia mais competir com os modernos Me109-E e F. Felizmente, no fim dos anos 30, foram concebidos aqueles que perfilariam a próxima geração de caças soviéticos, os modelos Lagg-1, Yak-1 e MIG-1, e que entraram em ação praticamente na mesma época em que a URSS foi invadida, embora inicialmente em números insuficientes. Todos eram caças modernos em conceito, muito embora fosse ainda pouco blindados e mal-armados quando comparados com seus inimigos. Os Mig´s tiveram pouca participação na guerra, pois eram destinados para desempenho em altitude, não sendo adversários para os caças alemães no combate perto do solo. De qualquer forma, foram desenvolvidos por medida de precaução, para o caso da Alemanha produzir bombardeiros estratégicos e ameaçar as fábricas situadas no coração da URSS. (Tal desenvolvimento foi de extrema importância quando, fim dos anos 40, a principal ameaça passou a ser os bombardeiros estratégicos nucleares americanos, o que tornou de repente os MIGs os mais importantes caças soviéticos). Mas deve-se ressaltar que o MIG-3, de 1942, era um dos caças mais rápidos em altitude e de maior razão de subida do mundo, graças a seus eficientes super-compressores. Os Lagg-3 iniciais, com motores em linha, eram inferiores aos os caças alemães, pois era prejudicado por peso excessivo e falta de refinamento aerodinâmico, o que tornaram os primeiros modelos de produção significativamente mais lentos que os protótipos, sendo que o costume de alguns pilotos de retirar o cockpit, (para melhorar a visão, prejudicada por defeitos na fabricação do plexiglass, que o tornava meio opaco), diminuía a velocidade ainda mais. Interessante notar que a camuflagem branca de inverno, aplicada às pressas e com acabamento ruim, também contribuía para diminuir a velocidade. O resultado final foi um caça cerca de 50 KPH mais lento que o 109F-1. Um difícil desenvolvimento culminou nos Lagg-5 e 9, com motores radiais, produzidos a partir de 1943, estes sim capazes de enfrentar em igualdades de condições seus inimigos, e até superá-los em determinadas situações. Muitos ases soviéticos pilotaram os Lags de motor radial. O melhor projeto soviético foi sem dúvida o Yak. Na verdade, estes caças fizeram parte do segundo mais extenso programa de produção de caças dhistória, só perdendo para os ME109, e foram fabricados nada menos que 30000, muito mais que qualquer caça aliado. Mesmo os primeiros Yak-1 já eram páreos duros para os caças alemães, e não fosse a falta de experiência dos pilotos soviéticos, teriam causado muito mais perdas no início do conflito. O desenvolvimento prosseguiu no Yak-7 e no Yak-9, este último o mais produzido da série, com diversas subversões, sendo que as últimas U e P eram largamente superiores aos FW190 e Me109 em baixa altitude. Mas o modelo culminante foi o formidável Yak-3, considerado por muitos como o melhor caça para baixas altitudes de toda a guerra, superando até mesmo o P51 em vários aspectos, e descrito como capaz de "voar em círculos" ao redor dos caças alemães, tanto que o Luftwaffe emitiu um comunicado aos seus esquadrões no sentido de evitar o combate com este modelo. Digno de nota é o fato de muitos pilotos aliados, ao experimentarem o caça, o preferiam aos seus próprios aviões, na verdade, os franceses o preferiram aos Spitfire e P51 quando formaram o esquadrão Normadiee-Niemen. Pontos comuns a todos os caças russos eram a capacidade de manobra, resistência ao rude ambiente em que operavam e o leve armamento, composto normalmente de apenas um canhão de 20mm e uma ou duas metralhadoras de 12,7mm, e com pouca provisão de munição. Isso prejudicava pilotos iniciantes, mas era parcialmente compensado pela alta cadência de fogo das armas russas e pelo fato de serem montadas no nariz e não sujeitos à deflexão. |
Autor - Visk / Esquadrão Najack - Brasil - T |
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